“Francisco se derretia todo pelos pobres e aos que não podia estender a mão nunca deixava de dar seu afeto” (2Cel 51,83).
“Amante de toda humildade, procurou os leprosos para servi-los. Obrigando-se a curvar e a sofrer até se transformar em escravo das pessoas miseráveis e repugnantes, queria aprender o perfeito desprezo de si e do mundo, antes de ensiná-lo aos outros” (Lm 1,8).
“Ide, dizia o bem-aventurado Pai a seus filhos, e anunciai a paz a todos os homens” (Lm 3,7).
“Não se considerava como amigo de Cristo a não ser cuidando das almas resgatadas por ele” (Lm 3,8).
“O santo tratava de viver sempre no júbilo do coração, conservando a unção do espírito e o óleo da alegria. Chamava a tristeza de mal babilônico” (2Cel 88,125).
Nas palavras de nosso último Ministro Geral (1997-2003), Frei Giacomo Bini, “a vida de Francisco foi marcada pelo encontro com o Deus pobre, presente em nosso meio através de Jesus de Nazaré” (Relatio ao Capítulo Geral de 2003, n. 89). Os maiores valores na vida de nosso pai espiritual vieram, na verdade, de dois exemplos: do Cristo crucificado fora dos muros de Jerusalém e dos leprosos fora das muralhas de Assis. O primeiro se fez, para Francisco, palavra viva, mandando-o reconstruir sua Igreja. Os segundos, os homens das dores da Idade Média, cobraram-lhe a gratuidade de um beijo, enchendo sua alma de gozo e doçura. Estes dois amores abriram a alma de Francisco para a providência de Deus, para o relacionamento casto com a irmã Clara, para a convivência benévola com os irmãos e a cordialidade para com todas as criaturas.
“Tinha os olhos na terra, mas o pensamento no céu” (1Cel 15,41). Conheceu, por isso, a perfeita alegria e o amor sem barreiras para com a suave irmã cotovia e para com o feroz lobo de Gubbio, para com o sol e a lua, e até para com um pedacinho de papel que ostentasse o sacratíssimo nome de Jesus. Em seu eu mais profundo, floresceu, com graça e encantamento, admirável respeito e fraternismo por todos os seres.
Não teve vaidades, nem jamais foi arrogante, embora a graça de Deus o trabalhasse generosa e visivelmente. Não alimentou, igualmente, sentimentos de inferioridade diante de reis e príncipes, nem foi mesquinho e insensível frente aos necessitados, mas só sentia inveja de irmãos que pudessem ser mais pobres e menores do que ele. “Ao se achegar aos pobres, não se contentava em dar-lhes o que possuía. Desejava dar-se a si mesmo e quando já não tinha mais dinheiro, entregava suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as às vezes para as distribuir” (LM 1,6).
Pregou o Evangelho com simples e poucas palavras, reverenciou as autoridades, mesmo quando indignas e de mãos manchadas, e não discriminava ninguém, fazendo servir o pão e o vinho da fraternidade mesmo aos irmãos ladrões. Como escreveu São Boaventura, “não foi um ouvinte surdo do Evangelho” (Lm 1,2).
Foi firme com os gananciosos, por amor à Senhora e Dona Pobreza, e desarmado diante dos poderosos, como o bispo de Assis, o papa de Roma e o sultão do Egito. Nunca foi crítico amargo, rancoroso e condenatório, mas sempre doce e cheio de humanidade para com todos.
Paciente nas tribulações e doenças, foi atencioso e nobre nos relacionamentos e sempre pacífico. Não apreciava títulos e honrarias e queria que todos fossem simplesmente irmãos. A si mesmo se considerava menor, pecador e indigna criatura do Deus Altíssimo.
Rezava, ensinou a rezar e morreu pedindo que os frades rezassem o Salmo 141. E nunca deixou de cantar com os jovens de Assis, com os irmãos e com o universo. Amou o sacramento do Corpo e Sangue de Jesus, e foi cavalheiro com as mulheres. Embora amando a todas, casou-se com Dona Pobreza, pois almejava ser pobre como o Filho de Nossa Senhora.
“Seu modo de vida o transformou radicalmente: nas idéias e sentimentos, nas vestes e no comportamento” (Lm 2,1). Como arauto do Grande Rei, morreu deixando para a história a imagem de “um quase Cristo redivivo” (Pio XI) e legando a seus seguidores a bandeira da paz e do bem.
A nós, frades, sobram-nos, diante de nosso Pai, dois sentimentos: o do encantamento e o de um grande desejo de imitá-lo. Mas nossa identidade só encontrará seu pleno desabrochamento diante do Cristo da cruz e dos pobres de todas as carências humanas.