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“A esperança não decepciona” (Rm 5,5) e nos fortalece nas tribulações”, fundamentado neste título, que tem como motivação o Ano Jubilar deste ano, que o Papa Francisco convida a Igreja para celebrar o XXXIII Dia Mundial do Enfermo, neste dia 11 de fevereiro.
A data também faz memória litúrgica a Nossa Senhora de Lourdes. Por esse motivo, a cada três anos, a solenidade é realizada em um santuário mariano. No entanto, no Jubileu da Esperança, a Igreja celebrará a data mundial pelos doentes na forma ordinária, no âmbito diocesano. O Jubileu dos Enfermos e do Mundo da Saúde será nos dias 5 e 6 de abril, e o Jubileu das Pessoas com Deficiência nos dias 28 e 29 de abril.
Neste ano em que a Igreja nos convida a sermos “peregrinos de esperança”, para celebrar o dia dedicado aos doentes, o Santo Padre escolheu uma passagem da Carta de São Paulo aos Romanos, na qual o apóstolo estimula a coragem na comunidade cristã de Roma.
A esperança, foco principal da mensagem, fortalece o convite e os votos do Papa Francisco voltados a todos os que sofrem e a todos os que cuidam dos enfermos. Uma esperança que, segundo o Pontífice, nos torna firmes nas dificuldades e alimenta a virtude a que chamamos fortaleza e que, assim como a esperança, é um dom de Deus.
No documento, o Papa Francisco apresenta três abordagens: o Encontro; o Dom e a Partilha.
No primeiro momento de sua reflexão ele reforça que diante da experiência da proximidade e da compaixão de Deus nos momentos em que convivemos com a doença, temos “uma oportunidade para um encontro transformador, a descoberta de uma rocha firme na qual podemos nos ancorar para enfrentar as tempestades da vida: uma experiência que, mesmo no sacrifício, nos torna mais fortes, porque nos faz mais conscientes de que não estamos sozinhos”.
Quando o Papa Francisco nos leva para o segundo momento, apontando o Dom, nos faz refletir que, diante de uma enfermidade, a esperança no Senhor é um dom, ressaltando a importância da nossa fidelidade. “Somente a sua Páscoa nos dá a certeza de que nada “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus” (Rm 8,38-39).
Conduzindo o coração do povo de Deus para a celebração do dia Mundial dos Enfermos, Papa Francisco ainda, como em um arremate de seus pensamentos voltados ao Ano Jubilar, destaca a relação dos enfermos e daqueles que os acolhem com uma partilha. Para ele, “os lugares onde se sofre são frequentemente espaços de comunhão, nos quais nos enriquecemos mutuamente”.
Ele leva à reflexão os ambientes de cuidado que precisam ser preservados, salientando que: “todos juntos somos “anjos” da esperança, mensageiros de Deus uns para os outros: doentes, médicos, enfermeiros, familiares, amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. E isso, onde quer que estejamos: nas famílias, nos ambulatórios, nas unidades de cuidados, nos hospitais e clínicas”.
O Papa encerra sua mensagem agradecendo aos enfermos e aqueles que cuidam dos que sofrem, dizem que essa união é um hino à dignidade e à esperança.
São Francisco de Assis e a enfermidade
A relação de São Francisco de Assis com os enfermos e a enfermidade fez dele um santo que encontrou na entrega, na dor e na doação a sua salvação e daqueles que, a partir de sus atos de amor, alcançaram um encontro especial com Deus.
No ano em celebramos o VIII Centenário do Cântico das Criaturas, lembramos que os gestos de esperança do Santo Pai Seráfico estavam na sua capacidade de ver no outro a imagem e semelhança do Crucificado. São Francisco era um homem de compaixão, que propagava a esperança entre os sofredores e oprimidos de sua época, por meio de seus atos, fundamentados nos exemplos deixados por Jesus Cristo.
Em texto publicado no site Franciscanos, em virtude do Jubileu extraordinário da misericórdia, Frei Almir Guimarães diz que: “Se o corpo de Francisco, quase no final de sua trajetória, é assinalado pelas chagas de Cristo, tantas vezes contempladas e pranteadas com amor, é porque seu caminho de compaixão fez com que de homem em homem, de irmão em irmão ele acolhesse em a si a dor dos outros, não de maneira passiva e estereotipada mas com originalidade própria de tal forma que cada franciscano que contempla o modo de Francisco exercer a compaixão dispõe de um “vade-mécum” , um “modo de fazer” a compaixão, uma “receita do bolo”. Essa receita é composta pelo Evangelho, pela fidelidade a Deus e pela prática do amor.
Entrevista, com Frei Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, publicada em 2020 pelo site Vatican News, aborda a enfermidade na vida de São Francisco. De acordo com o frade, Santo Seráfico tinha a saúde frágil e várias enfermidades adquiridas ao logo de sua vida. Diz o texto que a tradição das Fontes Franciscanas coloca como ponto de referência da sua conversão definitiva, o encontro com o leproso.
“Ao sofrimento das enfermidades físicas, acrescenta-se o sofrimento relacionado aos estigmas, ao carregar na própria carne os sinais da crucificação do Senhor Jesus, como feridas que se formaram nas mãos e nos pés e no lado direito, que sangravam constantemente. A terceira consideração sobre os estigmas que são relatadas é uma oração muito bonita, do próprio Francisco, que é considerada a oração que ele fez na mesma noite em que recebeu o dom dos estigmas, próximo à festa da exaltação da Santa Cruz. Nesta oração ele pede para experimentar na própria carne, tanto quanto humanamente possível, o terrível sofrimento que Cristo experimentou na hora da paixão, mas depois acrescenta, o desejo de experimentar o amor excessivo, tanto quanto possível – que pode ser interpretado como – aquele amor extremamente exagerado, extraordinário – que levou Cristo a suportar todo sofrimento para a nossa salvação; portanto, Francisco não busca e não pede o sofrimento pelo sofrimento, mas busca e pede o AMOR”, esclareceu Custódio da Terra Santa.
Que São Francisco de Assis seja sempre fonte de esperança para os doentes e aqueles que acolhem os que sofrem.
Leia abaixo a mensagem do Papa Franciso para o “XXXIII Dia Mundial do Enfermo”, traduzida para a língua portuguesa
“A esperança não decepciona” (Rm 5,5) e nos fortalece nas tribulações
Queridos irmãos e irmãs,
Estamos celebrando o XXXIII Dia Mundial do Enfermo no Ano Jubilar de 2025, durante o qual a Igreja nos convida a nos tornarmos “peregrinos da esperança”. Nisso, somos acompanhados pela Palavra de Deus, que, por meio de São Paulo, nos transmite uma mensagem de grande encorajamento: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5), ao contrário, ela nos fortalece nas tribulações.
São expressões reconfortantes, mas que podem levantar algumas questões, sobretudo para quem sofre. Por exemplo: como podemos nos manter fortes quando somos atingidos por doenças graves, que nos incapacitam e talvez exijam tratamentos cujos custos vão além das nossas possibilidades? Como manter a força quando, além do nosso próprio sofrimento, vemos aqueles que nos amam sofrerem e, mesmo estando próximos, se sentirem impotentes para nos ajudar? Em todas essas circunstâncias, sentimos a necessidade de um apoio maior do que nós mesmos: precisamos da ajuda de Deus, da sua graça, da sua Providência, daquela força que é dom do seu Espírito (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1808).
Vamos, então, dedicar um momento para refletir sobre a presença de Deus junto àqueles que sofrem, especialmente sob três aspectos que a caracterizam: o encontro, o dom e a partilha.
1. O Encontro
Quando Jesus envia os setenta e dois discípulos em missão (cf. Lc 10,1-9), exorta-os a dizer aos doentes: “O Reino de Deus está próximo de vós” (v. 9). Ou seja, Ele pede que ajudem os enfermos a perceberem que podem encontrar o Senhor mesmo na doença, por mais dolorosa e difícil de compreender que ela seja.
No momento da enfermidade, se por um lado sentimos toda a nossa fragilidade — física, psíquica e espiritual — como criaturas, por outro experimentamos a proximidade e a compaixão de Deus, que em Jesus partilhou do nosso sofrimento. Ele não nos abandona e, muitas vezes, nos surpreende com o dom de uma tenacidade que nunca pensamos possuir e que, sozinhos, não teríamos encontrado.
A doença torna-se, então, uma oportunidade para um encontro transformador, a descoberta de uma rocha firme na qual podemos nos ancorar para enfrentar as tempestades da vida: uma experiência que, mesmo no sacrifício, nos torna mais fortes, porque nos faz mais conscientes de que não estamos sozinhos. Por isso, diz-se que a dor sempre traz consigo um mistério de salvação, pois nos permite experimentar, de forma próxima e real, a consolação que vem de Deus, a ponto de “conhecer a plenitude do Evangelho com todas as suas promessas e a sua vida” (São João Paulo II, Discurso aos Jovens, Nova Orleans, 12 de setembro de 1987).
2. O Dom
Isso nos leva ao segundo ponto de reflexão: o dom. De fato, em nenhuma outra ocasião como no sofrimento percebemos que toda a esperança vem do Senhor e que, portanto, é antes de tudo um dom a ser acolhido e cultivado, permanecendo “fiéis à fidelidade de Deus”, como diz a bela expressão de Madeleine Delbrêl (cf. A esperança é uma luz na noite, Cidade do Vaticano, 2024, Prefácio).
Além disso, somente na ressurreição de Cristo cada um de nossos destinos encontra o seu lugar no horizonte infinito da eternidade. Somente a sua Páscoa nos dá a certeza de que nada “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus” (Rm 8,38-39). E dessa “grande esperança” derivam todos os outros raios de luz com os quais podemos enfrentar as provações e obstáculos da vida (cf. Bento XVI, Encíclica Spe salvi, 27.31).
E mais ainda: o Ressuscitado caminha conosco, tornando-se nosso companheiro de viagem, como aconteceu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35). Assim como eles, também nós podemos compartilhar com Ele nossas angústias, preocupações e decepções; podemos ouvir sua Palavra, que nos ilumina e faz arder nosso coração; e reconhecê-Lo presente no partir do Pão, encontrando no seu estar conosco, apesar dos limites do tempo presente, aquele “mais além” que nos devolve coragem e confiança.
3. A Partilha
Assim, chegamos ao terceiro aspecto: a partilha. Os lugares onde se sofre são frequentemente espaços de comunhão, nos quais nos enriquecemos mutuamente. Quantas vezes aprendemos a esperar ao lado de um doente! Quantas vezes aprendemos a crer junto de quem sofre! Quantas vezes descobrimos o amor ao nos inclinarmos para ajudar quem precisa! Em outras palavras, percebemos que todos juntos somos “anjos” da esperança, mensageiros de Deus uns para os outros: doentes, médicos, enfermeiros, familiares, amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. E isso, onde quer que estejamos: nas famílias, nos ambulatórios, nas unidades de cuidados, nos hospitais e clínicas.
É importante captar a beleza e a profundidade desses encontros de graça, aprendendo a guardá-los na alma para não os esquecermos. Devemos conservar no coração o sorriso gentil de um profissional de saúde, o olhar agradecido e confiante de um doente, a expressão compreensiva e atenciosa de um médico ou voluntário, o rosto ansioso e amoroso de um cônjuge, um filho, um neto, um amigo querido. Todos eles são raios de luz que devem ser valorizados e que, mesmo na escuridão das provações, não apenas nos dão força, mas também revelam o verdadeiro sentido da vida no amor e na proximidade (cf. Lc 10,25-37).
Queridos enfermos, queridos irmãos e irmãs que cuidam dos que sofrem, neste Jubileu, mais do que nunca, vocês desempenham um papel especial. Seu caminhar juntos é um sinal para todos, “um hino à dignidade humana, um canto de esperança” (Bula Spes non confundit, 11), cuja voz ultrapassa os quartos e leitos de hospitais onde vocês estão, estimulando e encorajando na caridade “a sincronização de toda a sociedade” (ibid.). É uma harmonia por vezes difícil de alcançar, mas, por isso mesmo, extremamente doce e forte, capaz de levar luz e calor onde mais se precisa.
Toda a Igreja agradece a vocês por isso! Também eu agradeço e rezo por vocês, confiando-os a Maria, Saúde dos Enfermos, com as palavras que tantos irmãos e irmãs pronunciaram em suas necessidades:
“À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,
mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.”
A todos vocês, juntamente com suas famílias e entes queridos, concedo minha bênção e peço, por favor, que não se esqueçam de rezar por mim.
Roma – São João de Latrão, 14 de janeiro de 2025
Papa Francisco
Texto: Adriana Rabelo